segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Leões podem ser modelo para estudar a Sida no Homem

Um cientista português descobriu que a elevada diversidade genética e de vírus existente nos leões permitirá utilizar esta espécie como modelo para estudar, entre outras doenças, a dinâmica do vírus da Sida em humanos. Por esta razão, a preservação de populações de leões em declínio assume uma elevada importância e mudar estes felinos de lugar pode levar à mobilidade de vírus potencialmente patogénicos e ameaçar a própria espécie, disse em entrevista o geneticista Agostinho Antunes.

Este investigador, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIMAR) da Universidade do Porto, liderou uma equipa de 20 cientistas internacionais que realizou uma investigação durante anos com mais de 350 animais da Índia e de vários países de África, que é publicada hoje na conceituada revista "PLoS Genetics". "Foi um esforço grande. Não é propriamente fácil amostrar estes animais, nem fácil, nem seguro", sublinhou o geneticista que esteve também envolvido na descoberta da sequenciação do genoma do gato.O trabalho visou conhecer melhor a variedade genética destes animais e caracterizar algumas doenças infecciosas, particularmente o FIV (desencadeia SIDA no gato doméstico), que existe com frequência elevada (até 97 por cento) em algumas populações de leões em África. "Há casos em que quase toda a população está infectada. É um caso interessante porque, ao contrário do gato doméstico, que desenvolve o Síndrome de Imunodeficiência Adquirida semelhante aos humanos, os leões não apresentam esses sintomas", explicou o cientista, que está ligado a esta investigação desde 2002. A investigação aponta o facto dos leões já coexistirem com o vírus há muito tempo e terem desenvolvido estratégias de defesa natural como sendo a explicação para a inexistência destes sintomas nestes animais. "Esta descoberta é mais uma possibilidade de utilizar espécies como o leão, infectadas com o FIV, como modelo para estudar a dinâmica do HIV em humanos e do FIV em primatas", sublinhou. O trabalho desvendou a evolução da dinâmica populacional dos leões e deitou por terra a ideia de que as populações de leões se resumiam a uma grande população em África e uma população na Ásia. "O que viemos mostrar é que a diversidade genética nos leões em África é bastante considerável", sublinhou o investigador, acrescentando que estes felinos têm uma "estrutura populacional bastante marcada entre diferentes regiões geográficas".

Identificado gene chave na propagação do cancro da mama

Uma equipa de investigadores norte-americanos identificou um gene que desempenha um papel chave na propagação do cancro da mama e torna também os tumores mais resistentes à quimioterapia, segundo um estudo hoje publicado. O gene, chamado Metaderina ou MTDH, está activo em 30 a 40 por cento dos pacientes. Situado numa pequena região do cromossoma humano, este gene parece ser crucial para a formação de metástases, ao ajudar as células cancerosas a fixar-se aos vasos sanguíneos de outros órgãos do corpo.
A identificação do mecanismo genético envolvido na formação de metástases do cancro da mama poderá abrir caminho ao desenvolvimento de novos tratamentos capazes de neutralizar a actividade do gene e reduzir a mortalidade.
"Neutralizar esse gene nos pacientes com cancro da mama permitirá atingir simultaneamente dois objectivos importantes: reduzir o risco de recorrência do tumor e ao mesmo tempo a sua disseminação noutros órgãos", afirma num comunicado Yibin Kang, professor de Biologia Molecular na Universidade de Princeton (Nova Jersey) e principal autor do estudo.
"Estas são clinicamente as duas principais razões pelas quais os pacientes atingidos por cancro da mama sucumbem à doença", acrescenta o investigador, cujo trabalho vem hoje publicado na revista Cancer Cell. "Não só foi exposto um novo gene responsável pelas metástases do cancro, como se trata também de um desses poucos genes cujo modo de acção preciso foi esclarecido", comentou Michael Reiss, director do programa de investigação sobre cancro no Cancer Institute de Nova Jersey e um dos co-autores do estudo. "Esta descoberta permitirá desenvolver um medicamento capaz de neutralizar o mecanismo de metástases do cancro", considerou. Estes investigadores descobriram também que o gene MTDH poderá também explicar a progressão e propagação de outros tipos de cancro, como o da próstata. O estudo foi financiado pelo Departamento da Defesa, os Institutos Nacionais de Saúde e a Sociedade Americana do Cancro. Apesar de não ser dos mais letais, o cancro da mama tem uma alta incidência e uma alta mortalidade, sobretudo na mulher, sendo que apenas um em cada 100 cancros se desenvolve no homem.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Bactéria "devoradora" de colesterol identificada no Homem


Investigadores franceses identificaram, pela primeira vez no homem, uma bactéria do tubo digestivo que altera o colesterol para um produto eliminado pelas vias naturais. A 'Bacteroides dorei Strain D8', como foi baptizada, poderá vir a ser utilizada para diminuir o colesterol elevado em doentes de risco, segundo o Instituto Nacional da Pesquisa Agronómica (INRA) francês, que efectuou as pesquisas recentemente publicadas na revista Applied and Environmental Microbiology.

“Algumas das bactéria que apresentam estas propriedades já tinham sido identificadas no rato, no porco e no babuíno mas, até agora, nenhum laboratório tinha conseguido isolar no Homem bactérias responsáveis pela transformação do colesterol em coprostanol, eliminado naturalmente”, revela Philippe Gerard, responsável pela investigação.
Nos animais são as 'eubacterium', umas bactérias de um género diferente, que asseguram o papel da transformação. “Até hoje pensávamos que estas eram as únicas bactérias capazes de o fazer”, acrescentou. O papel desempenhado pela flora intestinal humana nesta transformação era conhecido desde aos anos 30 do século passado mas não se sabia qual o género de bactérias, de entre os 100 mil milhões presentes num grama de matéria contida no cólon, que era responsável pela transformação. Uma vez identificada a bactéria, os investigadores constataram que, segundo o nível de bactérias, as pessoas transformam mais ou menos colesterol no cólon. As pessoas que têm mais de cem mil milhões destas bactérias por grama de matéria, transformam totalmente o colesterol. Com uma concentração entre um milhão e cem milhões por grama, a transformação é parcial e com menos de um milhão, a transformação não se produz, explicou o investigador
.





Investigadora portuguesa abre caminho à prevenção do vírus da Hepatite B

Trabalho de Sílvia Vilarinho no âmbito de uma tese de doutoramento realizada no ICBAS

Um trabalho realizado pela investigadora portuguesa Sílvia Vilarinho deu origem a estudos em amostras humanas de doentes infectados pelo vírus da Hepatite B, que podem culminar num novo medicamento contra esta doença que afecta 400 milhões de pessoas. A investigadora demonstrou que a Hepatite B pode ser prevenida pela administração endovenosa de um determinado anticorpo. “Esta investigação, efectuada num modelo animal, esteve na origem de outros estudos, já iniciados, em amostras humanas de indivíduos infectados pelo vírus da Hepatite B”, refere uma nota de imprensa do ICBAS.
Esta questão assume especial importância atendendo a que, apesar de existir uma vacina eficaz há mais de 20 anos, todos os anos registam-se mais de um milhão de mortes em todo o mundo associadas a complicações resultantes desta infecção crónica.
Vírus continua a ser mortal
A novidade da investigação realizada por Sílvia Vilarinho resulta da identificação de um mecanismo pelo qual determinadas células conseguem provocar a morte daquelas que estão infectadas. Desta forma, abre-se a possibilidade de uma nova estratégia terapêutica para os doentes infectados pela Hepatite B. “Apesar do vírus da hepatite B não ser maléfico para a célula infectada, a resposta imunitária do organismo contra essa infecção conduz ao mau funcionamento do fígado. A descoberta de Sílvia Vilarinho permitiu tratar ratinhos infectados com a administração endovenosa de um anticorpo que previne a lesão hepática”, salienta o comunicado do ICBAS. Segundo destaca, a prevenção da lesão hepática e, consequentemente, do mau funcionamento do fígado deve-se ao facto das células do sistema imunitário residentes neste órgão serem capazes de reconhecer as células infectadas. Na sequência destes estudos em animais, já tiveram início as investigações em amostras humanas, além de ter sido registada a patente do anticorpo utilizado
.


Investigadores portugueses identificam defeito genético associado ao cancro hereditário do estômago

Uma equipa de investigadores portugueses, em colaboração com colegas noutros países, identificou um novo defeito genético associado ao cancro hereditário do estômago que permitirá às famílias portadoras aceder a um diagnóstico precoce. Num estudo a publicar pela revista Human Molecular Genetics, investigadores do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), liderados por Carla Oliveira, mostram pela primeira vez que algumas famílias com esta doença, mas sem diagnóstico genético, apresentam aquele defeito no gene da caderina-E.
Vários grupos de investigação já tinham encontrado alterações naquele gene, o único associado ao cancro hereditário do estômago, mas numa porção muito pequena. É que "o gene tem muitas outras porções que não fazem parte da proteína, mas servem de zonas de regulação", disse hoje à Lusa Carla Oliveira. "Isso significa que havia 50 a 60 por cento das famílias que não tinham diagnóstico, apesar de terem cancros iguais, acrescentou. Em Portugal, considerado um país com alta incidência, estão identificadas 80 famílias com a doença, que é fatal na maior parte dos casos ".O que o estudo quis fazer foi reunir as famílias negativas que havia entre colaboradores do mundo inteiro, o que abarcava famílias de baixa, média e alta incidência de cancro de estômago, reunir essas amostras todas num único trabalho e encontrar porções do gene para além desses 30 por cento que podem ser eliminados nos pacientes", explicou. 20 por cento das famílias com mutações. O objectivo era identificar famílias negativas para mutações dos 30 por cento de DNA que são correntemente estudadas e alargar esse estudo a outro tipo de alterações que cobrissem uma frequência maior do gene. "O que temos feito até agora é o diagnóstico das mutações dos tais 30 por cento de gene, só que a percentagem de mutações desse gene em Portugal é mais baixa do que nos países de baixa incidência", assinalou. "Nós temos cerca de 20 por cento das famílias com mutações, enquanto em países de baixa incidência como os Estados Unidos e o Canadá a percentagem de mutações que encontramos é de 50".